Os homens bonitos se apaixonam pelas mulheres bonitas, os homens feitos também, e é ai que começa a maioria dos problemas.
Ubaldo era feio de pai e mãe, como ele mesmo dizia, e logo depois de dizer, sorria seu sorriso incompleto.
Ubaldo era feio desde o princípio. Nasceu prematuramente, e como todo espetáculo que estréia sem estar pronto, não fez sucesso.
Quando criança, era sempre o último escolhido pra tudo: time de queimada, trabalho em grupo, par de quadrilha... Entrar segurando alianças em casamento? Nem pensar!
Logo chegou a adolescências, e Ubaldo que já era feio ficou ainda pior por causa das malditas espinhas.
Um dia passando por uma das ruas que levavam ao centro da cidade, viu Marina, e Marina era bonita. Era estranha a sensação de Ubaldo, ele queria chegar perto, mas faltava-lhe coragem para falar com ela, — Ela é tão bonita, suspirava.
O rapaz ensaiou, gaguejou e nada, Marina passou por ele sem que ele conseguisse dizer palavra.
Ubaldo olhou pra trás assustado, como se ela não tivesse ouvido o que ele por um instante imaginara ter falado, mas logo percebeu que não fora capaz nem disso.
No outro dia, Ubaldo resolve ficar de plantão naquela rua, até que visse a moça novamente “enfeitar o ar com sua presença”. Ele já tinha tudo em mente: decorou três poemas, seus, e uma música do Wando, para impressionar.
Ao fim de quatro horas e meia, lá vem, no final da rua, Marina, linda como no dia anterior. Ubaldo se prepara, disfarçadamente, cantarolando as sete notas, em ordem crescente e decrescente, faz polichinelo umas dez vezes e dá três pulinhos.
Chegou a hora, ele gagueja, gagueja e diz: — Qu-que horas são? E ela, dando uma meia-risadinha: — Desculpe-me, eu não tenho relógio.