quinta-feira, abril 24, 2008

Crônica do Amor

Sim, eu discordo de 7 de cada 10 palavras que ele diz, principalmente quando fala de política (de forma alguma desmerecendo o grande talento e técnicas dele), contudo, essa crônica realmente me chamou a atenção.


"Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem amenor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa."


Arnaldo Jabour

5 comentários:

Jorge Elias disse...

Pode-se falar muito (bem ou mal) do Jabour - mas eu gosto de ler as cronicas dele toda terça-feira na Gazeta.
Certa vez assisti uma conferência dele em um evento em São Paulo - em plena CPI do Marco Aurélio e sua Gang - foi ótima!
Minha amiga, sua ausência foi notada no lançamento de meu livro.
Eu conhecia todas as caras presentes (não que isso não seja bom pois eram todos grandes amigos), mas ficou aquela sensação de um primeiro olhar para um amigo virtual.
Fique tranquila que não foste a única.

Abraços,

Jorge Elias

Hanne Mendes disse...

Ai, Jorge, como eu queria ter ido, mas você sabe como é vida de assalariado, eu sai mais tarde do trabalho e não tive como ir.
Será que você releva e mesmo assim assina o meu exemplar quando eu achar pra comprar?

Beijo.

Mésmero disse...

Quem nunca passou por isso, né.

Anônimo disse...

não gosto também da visão política do Jabour, não me simpatizo por ele também, mas ele escreve boas crônicas, (quando a temática é menos polêmica), prefiro Veríssimo. abraços.

Hariane Alves disse...

Jabor publicou em junho de 2006, numa edição à Gazeta do Sul, uma crônica nomeada por: "Em trilha de paca, tatu caminha dentro". Nesta crônica ele falava dos texto que não são de sua autoria e cita este que postaste "...E há um outro chamado 'Crônica do Amor Louco', onde leio pálido de espanto 'O amor não é chegado em fazer contas'.
Beijos

Hari Alves