quarta-feira, setembro 05, 2007

Ópio

Comecei a ler o livro, mas não foi o suficiente para aquietar a multidão que se movimentava na cabeça. Resolvi aumentar a dose então, liguei a música , coloquei os fones ao ouvido, isolando-me do resto dos barulhos.
Fui escolher a música, a maioria tinha cara de piorar a situação, peguei a menos ruim e deixei rolar. Letras nos olhos, acordes nos ouvidos, confusão infernal na mente, nenhuma concentração, nada tinha o poder de neutralizar meu conflito interno. Era Miguilin pegando a chave da moto; a Marisa escrevendo uma nova letra – Agora com a ajuda de todo o pessual do Mutum. Delírio regado a café, leite e canela, o friozinho que faz lá fora, o mundo a girar, pessoas andando e as luzes da cidade acendendo, uma a uma, várias juntas, e mais uma, e outra. Choveu, agora já passou já, mas eu já não sabia, a cortina da sala estava fechada. Não. Eu sai pela janela, o telhado que cobria parte do andar de baixo era forte, só fez um barulhinho. Ele não sai da cabeça, no entanto eu não queria mais pensar, passei para o térreo assim, no pulo do gato. Agora era a voz do Steven Tyler, gostosa no ouvido. Passei pela grade, fui até a pista de pouso do helicóptero, levei um lero com o piloto, cinco minutos e eu já sabia pilotar, sai voando, todos os sentidos eram válidos.
No ar, no céu nublado da noite do décimo nono dia que antecedia à primavera, tive o clímax intenso do confuso prazer de meus pensamentos, agora embalados pelo som dark do Daniel Johns, primeiro Miss you love depois Open fire – Essa sempre me fez viajar – chuvinha, nuvens cinzas em céu avermelhado. Pra baixo ficaram aquelas luzes, agora todas acesas, e os faróis dos carros.
Luz, livro, que? Nuvem, vermelho, moto, café, tá rápido, tá rápido, muito. Vozes, mato, grafite, acordes, ácido, ópio, tá baixando, tem montanha ali! Acho que vai bater, eu não sei, eu não sei pilotar esse troço (...) Tocou o sinal, era recreio.
A mente voltava da livre jornada feita em suas algemas, notas fúnebres e carnavalescas, prosa, verso e vida real. Se eu soubesse antes o que sei agora, iria embora antes do final.

7 comentários:

Flávio disse...

Por ser um pouco vingativo: "me recuso a ler esse post"...
mas, de fato, a história foi escrita primeiramente pela segunda parte; não existiu primeira parte, nem existiu o final da segunda... ambas não existem; ambas persistirão incompletas... como um amor que iniciou e produziu diversas artes, mas ao ser frustrado e destruído, não mais conseguiu continuar sua produção.

A frustração cessou...
o amor desapareceu...
a arte ficou, imcompleta.

Flávio disse...

Com mais carinho respondo ao segundo comentário (no outro blog), ao pedido de aceitação do orkut e ao seu post...

Agradável a forma como escreve... fato e ponto.

Infelizmente, mais por cautela que por qualquer outra coisa, preferiria te adicionar no msn; a não ser que nos vejamos futuramente ou que conversemos por muito tempo na internet, então eu te aceitaria no orkut. Lá eu sou mais seletivo. Aqui, sou todo palavras.

P.S.: Difícil ver pessoas de 21 anos escrevendo tão bem... dá até medo..
Ei! Eu tenho 21 anos!
E você é de virgem! Eu sou de leão caindo pra virgem.
Fiz 21 no 22 (de agosto).

Flávio disse...

É... a questão da pergunta que se transformou é verídica. Eu levantei a mão uma, duas, três, quatro vezes. As pessoas ao meu redor ficaram com dó pois o Grijó (mediador da discussão) não olhava para o meu lado e eu sou baixo (1,62m). Assim, o pessoal disse: "Rapaz, levanta e fica esperando, até ele te ver".
Foi o que fiz... levantei, esperei. Quando ele virou e me viu, permitiu que eu perguntasse pois eu estava em pé enquanto os outros apenas levantavam a mão. Foi a última pergunta.

Eu, então, disse: "Só tem um problema. A pergunta que era uma, agora são quatro". Todo mundo riu. Mas só pude fazer uma, que ainda ficou respondida pela metade... mas tudo bem.

(Ah! Perdão. Eu costumo escrever muito).

Flávio disse...

Um dia, talvez, eu te narro a verdadeira história de Gabriellis e Tinto, e você entenderá porque é a segunda parte, porque era um centauro e não outro ser, porque era um poeta, porque Afrodite, Artemis, Ápolo... eu fiquei dias escrevendo... imprimia em letra menor e corrigia, reorganizava alguns fatos... eu nunca tinha feito algo com tanto carinho... fiz a capa, contra-capa, indíce... parecia um livro, era pra ser um livro... mas foi bom ter sido frustrado... valeu a pena... foi uma etapa.

Que bom que gostou... fico feliz realmente!
Ah! E meus 21, na verdade, são bem mais do que parecem...

Flávio disse...

Ah! Perdão...
Eu estava relendo seus comentários e entendi corretamente dessa vez... eu tinha achado que voce tinha lido sobre o Café Literário mas nao tinha entendido que voce estava lá... acabei explicando a situaçao e nem sabia que você sabia de tudo, rsrs... falha minha.

Você sabe, né... poucos comentários, as pessoas ficam relendo e relendo e relendo...

Josely Bittencourt disse...

Ei moça,
é mesmo, combinações descombinadas!
No caso do post com o Oscar é mesmo fusão de leitura com a estranheza dos dias, rs. Sabe, amo a literatura capixaba! viciada mesmo, não passo um dia sem, rsrs

Gostei da visita, volte sempre! rs

:^*

Duda Bandit disse...

uma visão vertiginosa e caótica de uma realidade que se quer irreal, ou irreal que se quer real. pode parecer verborragia de minha parte, mas sabemos, eu e vc, que não é...

mas tem fragmentos de tantas outras coisas que em si parece anunciar novos escritos, tive a iluminação de prólogo.

um beijo.

Sau