quinta-feira, setembro 18, 2008



(...)empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Da minha aldeia - Alberto Caeiro

10 comentários:

Josely Bittencourt disse...

Ver da Casa Verde, ali daquele canto esquerdo...

Muito legal o diálogo!

Zzr disse...

"Eu já nem sei se terei no olhar toda a ternura que eu quero lhe dar..."

triste, mas lindo.

beijo, pingüim (?).

Jorge Elias Neto disse...

Tenho certo que ficará de mim o olhar.
Estou lendo, lentamente...., o livro do desassosego de Pessoa.
É MUITO BOM poder chegar por aquí e ler um poema como este.

Obrigado

Hanne Mendes disse...

tentando entender o comentário percebi que as últimas 3 postagens
falam de ver...

"Do canto esquerdo da minha Casa Verde vejo o quanto da Ilha se pode ver no Universo
Por isso o meu cantinho escondido é do tamanho de qualquer outro lugar
Porque somos do tamanho do que sonhamos
Seja dormindo ou acordado"

Multidialogo

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Pinguim... rs

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Quero ler esse livro também... =/

Kwai Chang Caine disse...

Sim. Você já reparou que profetas,oráculos, escritores visionários como Borges, Guimarães Rosa, James Joyce, eram cegos ou tinham sérios problemas de visão?
Os olhos cegos também vêem... vêem além...
Vêem o que está aqui, ali e em todo lugar [só para citar Lennon, que também usava óculos] o que os outros olhos acostumados não vêem.
Ver além não abriria nossas portas da percepção, de modo que nosso mundo [nosso mundinho repleto de contradições] se ampliasse?
Abraxas

Kwai Chang Caine disse...

Ah: só existe aquilo que vemos?
Quem somos pelos olhos dos outros [homens, pássaros, peixes, árvores, insetos, terra, água, fogo, ar]?
[Isto não é comentário: é quase um interrogatório]
Abraxas

Mésmero disse...

Pois é, menina. Também preciso de óculos.

Kwai Chang Caine disse...

Cara Hanne, o meu texto que segue abaixo não é diretamente um comentário [embora possa ser]. Se você achá-lo interessante, pode então publicá-lo. De todo modo envio porque acho que tem a ver com o blog... ou então porque no Mot de Femme várias escritoras se referem ao silêncio...

SILÊNCIO

Abordo agora o silêncio em Maurice Blanchot, com o propósito de provocar mais perguntas que respostas, sabendo que nem toda questão necessariamente tem uma solução. O que seria então o silêncio? Estaria ele somente no não-dizer palavras? Mas como, se o corpo fala, diz através dos sentidos? Nosso rosto com sua rostidade expressa, diz sentimentos e estados de espírito como alegria, raiva, felicidades, reprovação, dúvida, sem que pronunciemos uma só palavra.
Para Blanchot, a mudez de uma pessoa dotada de linguagem que se recusa a falar é diferente da mudez de uma pessoa surda-muda por acidente ou de nascimento. Enquanto esta utiliza sinais, em substituição aos signos lingüísticos, aquela pode parecer mais silenciosa que uma pedra ou um molusco. Muitas vezes, compreendemos algo (ou julgamos entendê-lo) sem que possamos verbalizá-lo.
Em seu ensaio “O paradoxo de Aytré”, de A parte do fogo, Blanchot refere-se a um conselho do escritor William Saroyan a quem queira escrever: “O melhor conselho que podemos dar é tirar sua linguagem não da própria linguagem, mas do silêncio de si mesmo. É o único conselho possível. Não escrevam com palavras, escrevam sem palavras, escrevam com o silêncio”. Em seu conselho, Saroyan aponta para o fato de que a própria escritura (com palavras) nasceria de uma tentativa sempre fadada à impossibilidade e ao fracasso de se dizer tudo ou quase. De acordo com Blanchot, o grande desejo, objetivo da literatura é chegar ao silêncio, dizendo tudo. O silêncio não seria aqui mais o não-dizer nada, mas sim o dizer tudo na ausência de tudo. O ser silencioso quer dizer tudo: o próprio Blanchot, que dedicou sua obra ao silêncio, escreveu mais de dez mil páginas.
A passagem de um estado silencioso para um estado de fala ou escrita implica uma tradução daquilo que “escrevemos” ou “falamos” sem o recurso a palavras. A ausência de palavra não é o silêncio; é o momento no qual o que compreendemos torna-se intraduzível por meio de signos verbais, numa dissociação, numa dissolução que aponta para a falha dos signos para representar um ser, ou objeto ou um pensamento, no sentido de estarem no lugar de. Num simples aviso como “Saí. Volto já”, pode-se perceber a linguagem se enunciando na falta (física) do enunciador: os verbos marcam que o ser ausente do local anuncia presentemente que voltará.
Calar-se seria mesmo consentir? Diante de determinadas situações, temos mesmo que dizer, falar algo? Temos que tomar partido num diálogo no qual nos recusamos a entrar? Calar-se pode ser mostrar seu horror diante dos fatos. Quando nos calamos, calamo-nos para nós mesmos ou para os outros? Seria possível calarmo-nos e saber que estamos em silêncio? Mas esse sabermo-nos silentes eliminaria o silêncio, na medida em que diria algo. Calar nem sempre é a melhor maneira de interromper em nós e nos outros a expectativa de uma continuação, de uma resposta. Às vezes, ao evitarmos dizer algo a alguém, tocar em certos assuntos, o que não dissemos fica dizendo em nós ou cria no outro a espera de uma palavra, por exemplo, de desculpa ou de elogio.
Ainda nos deparamos com dois momentos em que experimentamos o silêncio: o sonho e a morte. Quando sonhamos, retiramo-nos do mundo da linguagem para entrar num mundo em que imagens, associações falam em nós. Mantemos contato com uma realidade próxima do silêncio na qual se mostra o vazio do sentido: duvidamos de nossos sonhos, buscamos ver neles algo além do que apresentam ou sugerem. Quem fala, quem escreve nossos sonhos?
Em 20 de fevereiro de 2003, Blanchot morria. Pergunto-me agora: será que ele se calou? Será que, quando um ser morre, ele se cala, pára de se dizer, de se enunciar? O silêncio coincidiria com o instante da morte? Para Blanchot, a morte é um momento em que a obra, já totalmente desvinculada de seu autor físico, se libera e começa a se mover em várias direções. Na morte, no fim da vida e da escritura recuperam-se o silêncio anterior à Criação e o silêncio da eternidade.
Paradoxalmente, não há linguagem sem silêncio: é ele que precede, acompanha e ultrapassa qualquer ato de comunicação. É apenas no silêncio que damos sentido ao que ouvimos ou formulamos. Quando uma fala, uma leitura ou uma escritura acabam e se calam como evento: seu silêncio, seu não-dizer depois da última palavra ou do ponto final continuam em nós. Volto já.

Dauri Batisti disse...

Ja te visitei algumas vezes. Hoje venho para dizer que te adicionei à minha lista de blogs. Pode ser?
Um beijo.

GAZUL disse...

"...ver-dade"? Ah, essa Pessoa tá é fingindo!